Perigos da Natureza (miniconto)

– Não vá muito longe que essa floresta é perigosa, hein! – ordenou a mãe ao ver o filho se distanciar.

– Só vou até o riacho brincar um pouco. – respondeu o filho.

A mãe preparava o almoço dos dois quando ouviu a voz do filho chamando por ela. Sentiu aquele calafrio na espinha, o mesmo que sentia todas as vezes em que algo ruim estava para acontecer, e partiu em direção ao filho que se encontrava sentado perto das pedras que margiavam o riacho, observando algo do outro lado.

– Mãe, olha só que coisa mais linda aquele filhote. Que animal é aquele?

– Filho, não chega perto dele!! Esses animais são extremamente perigosos!! – bradou a mãe ainda correndo em sua direção.

– Imagina, mamãe. Olha só o tamanhozinho dele. Nem cresceu o pêlo ainda. Coitado, deve estar morrendo frio. Quem sabe podemos ajudá-lo? – disse o filho atravessando o riacho raso e indo em encontro ao outro.

A mãe apenas ouviu o estrondo ecoando por entre os galhos das árvores, mas já sabia  que ele significava o pior. Quando finalmente chegou ao riacho, viu o filho boiando no meio da água, envolto por uma enorme poça de sangue. Invadiu o riacho correndo e gritando “Meu filho! Você matou meu filho!! Por que?? Por qu…” Um segundo estrondo, similar ao primeiro, calou em definitivo o choro da mãe que caíra ao lado de seu pequeno filhote. Da ponta do rifle arcaico saía a fumaça que indicava o autor daqueles disparos fatais: um garoto de 13 anos.

O pai do menino também ouvira os disparos e agora chegava ao local saindo do meio da mata. Ao ver os dois ursos caídos, fitou o filho inundado em orgulho e acenando positivamente a cabeça:

– Esse é meu garoto!! Deixa o pessoal da cidade ficar sabendo disso!!

– Pai, você precisava ver – tagarelou o garoto – eu estava aqui desse lado e o urso filhote parou e começou a me encarar, daí ele veio pra cima de mim, e mostrou os dentes e as garras, vinha pra me matar com certeza, aí eu atirei nele e aí o outro maior chegou e tentou me pegar também, aí…

Então pai e filho saíram abraçados enquanto o garoto incrementava com orgulho a história que contava, afastando-se de outra família que mantinha um abraço bem mais mórbido nas gélidas águas correntes do riacho, sem nunca imaginarem a futilidade do motivo pelo qual haviam morrido.

O Amigo de um Amigo Meu (R.I.P.)

Hoje é uma manhã cinza de sexta-feira, apesar do sol. O coração nublado pela dor dá à barriga aquela sensação vazia, incompleta, de que algo não está no seu devido lugar. E não está mesmo. Ontem à noite, alguém nos deixou. Um amigo de um amigo meu. Seu nome era, é, e sempre será, Leopoldo.

Não tive muito contato com ele, mas posso afirmar com certeza que sempre fui recebido com muita festa por ele, como todos aqueles que o encontravam . Sempre bem-humorado, feliz, de bem com a vida. É difícil encontrar alguém assim nos dias de hoje, tão desprendido de tudo, dinheiro, casa, viagens. Seu único interesse? Amor! Foi sempre só o que pediu…e o que forneceu.

Na casa desse meu amigo estão todos tristes, arrasados, afinal Leopoldo vivia lá. Mesmo com a idade avançada, parecia criança pequena se divertindo. Se alguém perguntar ao meu amigo qual a principal qualidade de Leopoldo, ele responderá: companheirismo. E isso posso testemunhar que ele era mesmo. Sempre disposto, cheio de energia, alegre!

Mas tudo nessa vida é efêmero, e Leopoldo, assim como todos nós um dia, teve que partir para o próximo estágio, onde tudo é um pouco melhor. Ao meu amigo e sua família sobram saudades e lembranças. Memórias de toda uma vida de alegria, satisfação e acima de tudo amor incondicional. Lições deixadas por alguém que nos mostrou que todos nós poderíamos ser um pouco mais cachorros.

Published in: on setembro 12, 2008 at 11:57 am  Comments (14)  
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